カポエイラの近代スタイル
Estilos modernos de capoeira

Aqui, apresentarei em ordem cronológica os estilos modernos de capoeira que surgiram no século XX, divididos em cinco grandes categorias: capoeira desportiva, capoeira regional, capoeira angola, capoeira contemporânea e capoeira gospel.

Desde tempos antigos, já havia no Rio de Janeiro uma forma própria de capoeira, em que capoeiristas se destacaram em lutas contra diferentes artes marciais, realizadas desde o início do século XX. Na mesma época, também foram publicados manuais intitulados de "ginástica brasileira" ou "ginástica nacional", etc. que sistematizavam a capoeira como uma modalidade esportiva, dando origem à "capoeira desportiva" (ou capoeira desporto), que pode ser considerada como o primeiro estilo moderno de capoeira.

Na década de 1970, foi criado o Departamento Especial de Capoeira na Confederação Brasileira de Pugilismo e, a começar pela Federação Paulista de Capoeira, também foram sendo fundadas federações em outros estados brasileiros. Além disso, após a divulgação do Regulamento Técnico de Capoeira pelo Conselho Nacional de Desportos, começaram a ser realizados torneios universitários de capoeira e o Campeonato Brasileiro de Capoeira.

Com o objetivo de fazer com que a capoeira desportiva se torne uma modalidade olímpica, a Federação Internacional de Capoeira (FICA) foi formada em 1999 pelas federações nacionais de capoeira do Brasil, Portugal, Canadá e Argentina, mas a Federação Mundial de Capoeira (WCF) com a sede na Estônia, ao norte da Europa, tem realizado torneios internacionais ativamente desde a sua criação em 2011.

Nos últimos anos, a famosa marca de bebida energética Red Bull tem realizado, como parte de suas atividades promocionais, o campeonato mundial "Red Bull Paranauê" na cidade de Salvador, Bahia, considerada a Meca da capoeira, e a competição "Volta do Mundo – Bambas" (VMB) vem sendo realizada com atletas convidados de dentro e fora do Brasil, disputando um cinturão e um prêmio em dinheiro, com um forte caráter de entretenimento.

A “Luta Regional Baiana”, conhecida popularmente como "capoeira regional", é um estilo moderno de capoeira criado na década de 1930 por Mestre Bimba (Manoel dos Reis Machado, 1900-1974).  Mestre Bimba foi o primeiro a ser autorizado oficialmente para registrar uma academia de capoeira em 1937, mesmo ainda sendo um período em que a capoeira era considerada uma atividade criminosa. O documentário "Capoeira: Master Bimba in Salvador de Bahia" (INA, 1968), mostra Mestre Bimba ensinando a Capoeira Regional, enquanto canta e toca o berimbau, em sua nova academia aberta em 1942.

A capoeira regional é conhecida como um estilo mais pragmático, que priorizou o ataque e a defesa e introduziu golpes de outras lutas, eliminando muitos elementos ritualísticos da capoeira clássica. No vídeo a seguir, as oito sequências introduzidas na Capoeira Regional para o aprendizado gradual das técnicas, bem como diversos movimentos desequilibrantes para derrubar o oponente, são explicados por Mestre Nenel, filho de Mestre Bimba.

A bateria da Capoeira Regional é formada por um único berimbau e dois pandeiros, sendo o "São Bento Grande da Regional" o ritmo mais característico. O álbum "Curso de Capoeira Regional" (JS Discos, 1955), considerado a cartilha da Capoeira Regional, inclui os sete tipos de ritmos utilizados na Capoeira Regional, sendo acompanhado de um livreto com ilustrações explicativas sobre as sequências e as técnicas.

Com o surgimento da Capoeira Regional, os estilos próximos de uma capoeira mais clássica passaram a ser chamados de capoeira angola (ou capoeira de angola). O documentário "La capoeira" (INA, 1963), filmado em uma praia de Salvador, Bahia, contém imagens de Mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha, 1889-1981), considerado uma das figuras centrais da capoeira angola moderna, fazendo uma apresentação com os membros do grupo "Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA)" criado por ele em 1941. Mestre Pastinha é a pessoa tocando berimbau que está vestindo uma camisa listrada.

Não é raro a linhagem de Mestre Pastinha ser reconhecida como a principal da capoeira angola, porém, vários outros mestres da Bahia, tais como Mestre Cobrinha Verde (1916-1989) e Mestre Waldemar (1916-1989), também tiveram uma presença marcante. A figura a seguir apresenta alguns mestres que atuaram na cidade de Salvador por volta da década de 1950. A propósito, logo no início do livro Capoeira Angola (1964), de Mestre Pastinha, junto a palavras de agradecimento são mencionados, ao longo de quase uma página, muitos nomes de capoeiristas conhecidos na época, mas hoje já praticamente esquecidos.

Geralmente, a capoeira angola costuma ser caracterizada por movimentos lentos e com a postura baixa, porém, na prática, ataques vigorosos, alternando a velocidade, e movimentos em pé também são utilizados. No jogo, movimentos ritualísticos e a inventividade da mandinga, usada para confundir e enganar o oponente, são características marcantes. A formação da bateria varia de acordo com o grupo, mas basicamente é composta por três berimbaus, pandeiro, agogô, reco-reco e um atabaque. O canto tem a função de transmitir diversas mensagens, sendo que a musicalidade é um elemento fundamental na capoeira angola.

A “capoeira contemporânea” é, literalmente, um termo genérico para “estilos contemporâneos” e não se refere a uma escola específica. Geralmente, estilos derivados de capoeira angola ou regional, bem como o estilo de grupos que incorporam ambos, são chamados de capoeira contemporânea. Mestre Canjiquinha (1925-1994), discípulo de segunda geração de Mestre Pastinha, defendia que as diferenças de estilo eram apenas diferenças do toque e que “a capoeira é uma só”.

Em 1955, Mestre Carlos Sena (1931–2002), discípulo de Mestre Bimba, fundou o "Centro de Pesquisa, Estudo e Instrução de Capoeira Senavox”, sendo amplamente reconhecido na época como o criador da terceira escola de capoeira, a "capoeira estilizada", ao lado da capoeira regional e da capoeira angola. O uniforme branco conhecido como “abadá”, a saudação “salve” e o sistema de graduação foram introduzidos na capoeira pelo Mestre Carlos Senna, e continuam sendo adotados por muitos grupos de capoeira contemporânea.

Um dos primeiros grupos de capoeira contemporânea foi o Grupo Senzala, criado em 1963, na cidade do Rio de Janeiro, por jovens autodidatas que buscaram o ensinamento de vários mestres. O grupo desenvolveu uma metodologia de treinamento que tinha como característica um aquecimento inicial, com todos os alunos fazendo movimentos de capoeira ao mesmo tempo, além da prática de sequências de golpes de ataque e defesa dois a dois. Além disso, diz-se que foi o Grupo Senzala que introduziu pela primeira vez as cordas coloridas amarradas na cintura no sistema de graduação. As imagens acima são de uma apresentação realizada pelo Grupo Senzala na década de 1960.

“Capoeira Gospel”, também chamada de “Capoeira Evangélica” ou “Capoeira Cristã”, refere-se a capoeira praticada por diversos grupos de capoeira formados no Brasil no final do século XX, tendo como finalidade a evangelização. Sua principal característica é a exclusão de cantos tradicionais  ligados às religiões afro-brasileiras, que são substituídos por letras de músicas gospel. Além disso, alguns desses grupos também evitam o uso de instrumentos como o atabaque e movimentos ritualísticos da capoeira angola, por estarem ligados a religiões afro-brasileiras.

O uso da capoeira para pregar os ensinamentos da igreja evangélica é visto por alguns como uma forma de apropriação cultural, sendo que a principal preocupação é que, ao eliminar os elementos de religiões afro-brasileiras, isso possa levar à negação das tradições e raízes do povo negro. Estima-se que um em cada quatro brasileiros seja evangélico, e devido a muitos parlamentares de partidos evangélicos serem simpatizantes de ideologias ultraconservadoras, também há preocupações quanto ao risco de que sejam propostas e aprovadas leis que imponham restrições à cultura afro-brasileira como um todo.